Wednesday, September 02, 2009

Capítulo 1

- Posso?
- À vontade.

E ela pôs a bandeja com prato e coca-cola na mesa, puxou uma cadeira e ficou almoçando. Ele nem gostava de aglomerações mesmo, e era capaz de criticar toda a sociedade capital-consumista em questão de segundos, mas não vinha ao caso.

Largou os coquetéis molotov por alguns instantes.

- Na verdade, eu tô esperando alguém, mas acho que não chega mais.

Pronto, agora era com ela. Que conversasse, comesse e fosse embora, ou combinasse um gesto solene de boca com um levantamento de sobrancelha, mas ela só comeu.

Do fundo da cadeira, ele olhou, olhou rápido pra outro canto, achou que tinha virado rápido demais, parecendo tenso, e passou a transbordar autoconfiança. 4 ou 5 segundos mirando um ponto, uma piscada ralentada, e foco em outro objeto. Perfeito.

Reparou que, terminado o almoço, ela agora despejava coca no copo, cuidando pra banhar as pedras de gelo. Boa estratégia, gelava a bebida mais rápido, mas por outro lado deixava mais diluída, e ele não... ih, ela pegou o olhar fixo no copo. Tinha perdido a contagem dos segundos. O olho piscou desesperadamente 3 ou 4, ou 8 vezes e fugiu pros sapatos de uma senhora na mesa ao lado. Um cisco, que coisa. Enfiou polegar e indicador nos olhos, mas não por muito tempo, ela podia pensar que era remela.

Thursday, June 25, 2009

É de lascar

Outra do meu trabalho:

Em reunião com duas representantes de um jornal X, elas me dizem como foi difícil chegar até aqui. "Aqui" é um Centro de Convenções, e aqui vive abarrotado de gente. Foi o que eu disse a elas, acontece com todo mundo. Uma delas ainda brincou: "Pois é, e duas loiras, a gente quase não chega. Era todo mundo dando informação desencontrada".

Certo, as piadas de loira saíram de moda há algum tempo, mas eu sorri mesmo assim (ô, mania). Depois do almoço corrido eu desço ao térreo pra comprar mantimentos (Trident de canela) nas barraquinhas de ambulantes que aparecem do nada, que nem aqueles pássaros que ajudam a limpar rinocerontes. Eles devem receber a agenda de eventos mais precisa que existe em Brasília. Voltando, desci lá e qual foi a minha surpresa ao ver do que se tratava: Enésimo Seminário da Igualdade Racial. E é óbvio que quando se fala em igualdade, poucos brancos se interessam em continuar na mesa.

Revisando o comentário da loira, ah, se eu tivesse a agenda dos ambulantes! comentário mais infeliz...

Saturday, May 16, 2009

Vou, embora...

13 é o número mágico de alguém, e esse é o meu tempo de Cruzeiro. Não é time, e aí vai uma breve descrição:

- É não saber se você mora em Brasília, numa parte dela, em outra cidade, ou no sovaco da Asa Sul;
- É penar pra ditar o endereço: SHCES ("ésse cê é ésse?" não, ésse agá. "ésse agá ésse?);
- É (ainda) poder, num banco frio, madrugar com viola, algo pra beber, muito a dizer e um amigo;
- É ver as janelas tremerem quando passa um quase-plaboy com o som a toda, e depois esperar que os donos dos carros estacionados desliguem o alarme pra continuar a vida;
- É ter que dar bom-dia ao zelador que encheu meu saco quando, moleque, eu achava um desperdício não poder jogar bola debaixo do bloco;
- É não saber, até hoje, dar informações. Se me param à procura de tal quadra, ou eu digo que não moro aqui, ou, em dias mais inspirados, levanto o braço direito e digo: é por ali, bem pertinho;
- É morar em frente a uma quadra de basquete e, depois de um tempo, reconhecer os amigos de longe só pelo jeito de quicar a bola;
- É ter uma saída certa pra cada direção que se queira ir;

E vai aumentando...

Sunday, May 10, 2009

Conversa de Supermercado

Filha: Olha só a Gisele nessa revista. Já é mãe.
Mãe: É mesmo. E olha, sem maquiagem ela parece uma mulher normal...


A todas as mães normais do mundo.

Tuesday, April 07, 2009

Emiliano Subirá aos Céus

Não é um anúncio! nem a prova da minha conversão ao cristianismo. É uma tirinha dos famosos "Malvados" que, por questões de amoralidade ao avesso, não postarei aqui. Quem conhece sabe onde achar.





Mais uma vez, qual é o ponto? o ponto é: vocês já fizeram algum desejo idiota, alguma ação imbecil, e sentiram como se estivessem no topo do mundo?





Cuidado, porque, de certa forma, estamos todos. O que fazemos com nossa herança, ao carregar o saber dos nossos antepassados? nos tornamos mais inteligentes e sensíveis por não precisarmos guerrear pra sobreviver?





"Heaven can wait"


Friday, March 27, 2009

Delegado II

Eu sabia que haveria outra oportunidade de escrever sobre o Delegado, mas esta ainda não é a hora de explicar sua origem: hoje é sobre tradução, no aspecto mais profundo.



Em mais uma de suas preleções, o Delegado me falou que, às vezes, se eu for a uma igreja, gostar e me converter, às vezes, poderia salvar quem estivesse ao meu redor. Por exemplo, às vezes, um parente meu que estivesse na iminência de sofrer um acidente, seria poupado por ordem divina.



Traduzindo, eu concordo com o sumo disso. Neste momento, não quero matar ninguém, portanto ninguém morre. Por ordem minha (eu sendo mais paciente e devoto), hoje vivem todos. Meus amigos de infância, minhas tias-avós corujas, os donos de todas as lojas de doces, as pessoas que apareceram por acidente nas minhas fotos, todos são comigo.






Friday, February 27, 2009

There was a little girl who had a little curl
Right in the middle of her forehead
And when she was good she was very very good
And when she was bad she was horrid

Só porque eu andei pensando no tipo de educação que quero passar aos meu filhos. Tirando pela minha, acho que não tem coisa mais estimulante do que poesia. Com estórias em geral eu me lembro de passar muito tempo imaginando um personagem e refletindo sobre suas atitudes. Engraçado como aparecem as idiossincrasias. Eu ainda não tinha muito espelho, mas minhas reações eram de puro fascínio, seja por um tom de voz que dava a algum vilão ou mesmo pela facilidade com que todos os personagens tinham em escolher entre o bem e o mal, se mantendo sempre fiéis.

She stood on her head in her little trundle bed
And nobody cared worth a flinder.
She screamed and she squalled
And she kicked and she bawled
And she drummed her little heels against the winder.

Her mother heard the noise
And thought it was the boys
Playing in the empty attic.

So she rushed upstairs
And caught her unawares
And spanked her most emphatic.
(Emerson)

Mais uma

"Pesquisadores descobrem peixe psicodélico com pés"

Imaginem as bizarrices que esses caras descobririam se usassem outras partes do corpo...

Noticiário Moderno

"Morre o homem que matou estudante encontrada morta em São Paulo".

E a polícia, não vai estar investigando o caso?

Aliás, para casos de mortos encontrados vivos:



"...and in the night when the wolves cry out listen close and you can hear me shout"