Monday, April 28, 2008

70 anos de Elegia

Trabalho sem alegria para um mundo caduco,
onde as formas e as ações não encerram nenhum exemplo.
Pratico laboriosamente os gestos universais,
sinto calor e frio, falta de dinheiro, fome e desejo sexual.

Heróis enchem os parques da cidade em que me arrasto,
e preconizam a virtude, a renúncia, o sangue-frio, a concepção.
À noite, se neblina, abrem guarda-chuvas de bronze
ou se recolhem aos volumes de sinistras bibliotecas.

Amo a noite pelo poder de aniquilamento que encerra
e sei que, dormindo, os problemas me dispensam de morrer.
Mas o terrível despertar prova a existência da Grande Máquina
e me repõe, pequenino, em face de indecifráveis palmeiras.

Caminho entre mortos e com eles converso
sobre coisas do tempo futuro e negócios do espírito.
A literatura estragou minhas melhores horas de amor.
Ao telefone perdi muito, muitíssimo tempo de semear.

Coração orgulhoso, tenho pressa de confessar minha derrota
e adiar para outro século a felicidade coletiva.
Aceito a chuva, a guerra, o desemprego e a injusta distribuição
porque não posso, sozinho, dinamitar a ilha de Manhattan.



Quê?

Sunday, April 20, 2008

Tem gente que se esforça para esconder a roupa suja, os dentes tortos, a mão sem um dedo, o cabelo crespo, o olhar estrábico, a cor da pele, o nariz assimétrico, as orelhas de abano, a barriga de cerveja, o porte pouco atlético, o amor da vida...

Felizmente tem gente que não se importa. Não procura abrigo nos defeitos dos outros, por isso enxerga a perfeição nesse nosso jeito caótico de ser.




Ah, se soubessem como caretas ficam
ainda mais feias
atrás de máscaras

"trying to look like you don't try"

Thursday, April 03, 2008

Sereu

Quando eu nasci já tinha meio mundo
De gente me esperando
De gente esperando
A esperança nascer

Eu saí, corri, caí e chorei
Até quase nada pra mim
Ter cara de primeira vez

Agora eu, esperando pelo mundo sozinho
Me bate a impressão
De ter errado o caminho



"It's just the end of the world"