Monday, April 28, 2008

70 anos de Elegia

Trabalho sem alegria para um mundo caduco,
onde as formas e as ações não encerram nenhum exemplo.
Pratico laboriosamente os gestos universais,
sinto calor e frio, falta de dinheiro, fome e desejo sexual.

Heróis enchem os parques da cidade em que me arrasto,
e preconizam a virtude, a renúncia, o sangue-frio, a concepção.
À noite, se neblina, abrem guarda-chuvas de bronze
ou se recolhem aos volumes de sinistras bibliotecas.

Amo a noite pelo poder de aniquilamento que encerra
e sei que, dormindo, os problemas me dispensam de morrer.
Mas o terrível despertar prova a existência da Grande Máquina
e me repõe, pequenino, em face de indecifráveis palmeiras.

Caminho entre mortos e com eles converso
sobre coisas do tempo futuro e negócios do espírito.
A literatura estragou minhas melhores horas de amor.
Ao telefone perdi muito, muitíssimo tempo de semear.

Coração orgulhoso, tenho pressa de confessar minha derrota
e adiar para outro século a felicidade coletiva.
Aceito a chuva, a guerra, o desemprego e a injusta distribuição
porque não posso, sozinho, dinamitar a ilha de Manhattan.



Quê?

3 comments:

.a que congemina said...
This comment has been removed by the author.
.a que congemina said...

algumas situações na vida me pasam a impresão de que são mais difíceis que dinamitar sozinha a ilha de manhatan.

e algumas delas, depois que passam, eu vejo que foram, mesmo, muito mais difíceis.

Maiara said...

Eu nao gosto da ultima estrofe...