Tuesday, May 08, 2007

The girl was stoned...with stones.

Aí vai uma notícia multi-facetada:

"Uma garota de 17 anos foi apedrejada até a morte no Iraque."
Não entendeu? olhemos mais de perto:

Se a mídia não me engana - e os mais espirituosos diriam que esta seria a primeira vez -, uma garota pertencente ao grupo Yezidi foi espancada e morta por oito ou nove homens (alguns, seus próprios parentes) por volta de 7 de abril em meio a uma multidão na vila de Barzhan, no norte do Iraque. A notícia foi espalhada por meio de vídeos gravados em celulares de testemunhas, posteriormente carregados no YouTube.

É claro que eu não precisava assistir a um vídeo desses, mas precisava, entende? e não foi difícil achar, pelas palavras-chave "girl", "islam" e "stoned" (esse último, me apresentando também vários vídeos de adolescentes drogadas em festas de adolescentes, graças à polissemia do termo inglês). Qual não foi minha surpresa ao encontrar, em vez das imagens em si, um vídeo-protesto feito por um de seus uploaders contra a censura dos vídeos originais. O autor também cita o link de seu site particular, onde disponibilizou o material censurado em Quick Time, um formato alternativo. (Tópico 1 = censura. Há limites?)

Eu não precisava ir tão longe pra ver vídeos tão chocantes. Mas precisava, entende? Alguém aí já viu um apedrejamento? mulheres são condenadas a tal pena com uma certa freqüência (Tópico 2 = cultura. Dá pra falar em machismo?), sempre que, pela cultura local, se configura um "crime contra a honra". No caso da garota Du'a Khalil Aswad, considerou-se que ela traiu e envergonhou sua família ao ter dormido fora de casa por uma noite e ter se envolvido em um romance com um rapaz sunita.

Pessoalmente, eu preferi ver cenas borradas pela velocidade com que a câmera-celular se movia. Qualquer coisa mais nítida e eu não sei se teria estômago para escrever isso. O pior é que não adianta tentar apagar uma imagem tão forte. Eu tenho certeza de que quem quer que tenha tido contato com esse vídeo se sentiu presente, testemunha, enjoado e enojado. Correção: qualquer ocidental que tenha visto tal material. Passadas as vertigens, temos de nos lembrar que nem todas as culturas do mundo se pautam pelos ideais humanitários do oeste. Os espirituosos diriam que, capitalistas como somos, não mataríamos um cliente em potencial. Mas não é bem por aí, pois temos pena de morte por aqui também (além da pena de uma vida miserável a que muitos são condenados diariamente). A diferença é que "não dói". (tópico 3 = Cultura. Dá pra comparar?)

Depois de a notícia ter corrido o mundo pelo YouTube, os noticiários de todo o mundo resolveram falar também (tópico 4 = pessoas de carne e osso fazendo mídia. Dá pra ser mais rápido e democrático?), o que acabou aumentando o interesse geral pelo assunto. Apesar de os vídeos não mais serem exibidos pelo site, ainda é possível comentar e ler os comentários feitos por internautas. Não é novidade que noventa e cinco por cento deles propagam idéias de vingança e ódio à cultura islâmica, o que, em uma análise mais cética, acaba por dar mais energia à discussão pró/contra a Guerra, já que o fato aconteceu precisamente em solo iraquiano. "I hate muslims, I really do", "They should be the ones being stoned", só pra dar exemplos. (tópico 5 = que cultura é essencialmente boa? e má?)

O último, mas não mais importante ponto que eu queria abordar é a intenção de quem considera um evento social digno de ser registrado. Crítica ou Apologia? Não importa muito, eu sei, afinal a coisa foi gravada e agora está nas mãos da História. No entanto, é bastante curioso saber que a sociedade do espetáculo já atingiu proporções globais (com o perdão do trocadilho). Cria-se uma rede mundial onisciente, que presta atenção tanto a apedrejamentos no Leste quanto a festas adolescentes no Oeste.

E é isso, e é muito mais que isso.

1 comment:

Larissa said...

Se a sociedade aceita um jornal com fotos explícitas de gente morta sem respeitar nem ao menos seus familiares, eu não tenho nada a dizer.

É a mesma sociedade. A gente acha absurdo uma menina ser apedrejada, mas não é absurdo uns adolescentes idiotas espancarem um índio na rua assim, sem motivo algum?

Eu sou a favor da cultura. Pode ser horrível pra gente, mas não adianta impor a nossa sociedade ocidental a quem vive há séculos pensando diferente. E quem disse que pensam errado, né?

---------------
(só pra separar meu amor do texto pesadinho :))

Amo muito (L)

*e a arranjei tempo de ler antes de dormir! Boa noite meu lindo! Beijo!